terça-feira, 11 de maio de 2010

A necessidade da compaixão

"Arrebatavam-me os espectáculos teatrais, cheios de imagens das minhas misérias e de alimento próprio para o fogo das minhas paixões. Mas porque quer o homem condoer-se, quando presenceia cenas dolorosas e trágicas, se de modo algum deseja suportá-las? Todavia, o espectador anseia por sentir esse sofrimento que, afinal, para ele constitui um prazer. Que é isto senão rematada loucura? Com, efeito, tanto mais cada um se comove com tais cenas quanto menos curado se acha de tais afectos. Mas ao sofrimento próprio chamamos ordinariamente desgraça, e à comparticipação das dores alheias, compaixão. (...) Amamos, portanto, as lágrimas e as dores. Mas todo o homem deseja o gozo. Ora, ainda que a ninguém apraz ser desgraçado, apraz-nos contudo a ser compadecidos. Não gostaremos nós dessas emoções dolorosas pelo motivo de que a compaixão é companheira inseparável da dor? A amizade é a fonte destas simpatias."
Santo Agostinho, in 'Confissões'

Sem comentários:

Enviar um comentário